Os nossos arquitetos foram convidados para desenvolver uma Igreja e Centro Paroquial na região de Lisboa, mais propriamente no distrito de Setúbal, concelho da Moita, freguesia do Vale da Amoreira. Temos experiência nos trabalhos de carácter social ou simbólico. Assim, já trabalhamos com entidades publicas como a administração central (Ministérios) ou local (Câmaras Municipais). Do mesmo modo, já trabalhamos com entidades privadas como a Santa Casa da Misericórdia. Isto permite-nos uma abordagem ao projeto que contém todas as dimensões de um programa religioso.
Igreja e centro paroquial
Imagens
A Igreja na sociedade
A nova Edificação, o arranjo dos Espaços Exteriores, a Reabilitação da Construção Existente (atual Igreja) e a mancha de implantação da Residência Paroquial foram todas pensadas como um conjunto arquitetónico coerente. Contudo, é importante salientar que o projeto foi desenvolvido de modo a garantir que cada um destes elementos possa ser executado faseadamente de acordo com a disponibilidade financeira.
O projeto procura a uma escala urbana conferir antes de tudo uma nova urbanidade que traduza efetivamente a realidade da atividade religiosa que naquele local sagrado se desenrola.
Para este efeito foi fundamental uma reflexão profunda sobre a ação religiosa de modo a torná-la efetiva desde a escala da forma urbana até à escala de um detalhe construtivo.
A vivência da religião na comunidade é assim estruturante para a proposta, permitindo desenvolver uma integração com a contexto urbano existente quer ao nível das suas construções e espaços públicos envolventes, quer ao nível do seu contexto social e económico. É precisamente esta adequação à especificidade do local em todas as suas vertentes que permitirá a originalidade da proposta.
Subjacente à proposta está uma vontade de valorizar a identidade cultural própria desta comunidade e recusar a repetição acrítica de modelos desajustados à realidade local e contemporânea.
A Igreja na cidade
O projeto nasce após uma análise cuidada do contexto urbano, da sua envolvente e das necessidades do programa. A área de intervenção é localizada num gaveto e possui um declive moderado sendo a zona mais alta a norte e a zona mais baixa a sul junto à construção existente que é atualmente usada como igreja.
O terreno atualmente é usado como espaço de passagem, sendo visíveis os seus caminhos a pé posto e aducentes a estes uma árvore que resiste no seu interior. A poente e nascente do terreno encontram-se casas unifamiliares. A norte encontram-se edifícios de habitação plurifamiliar. A Sudeste está um espaço público usado como equipamento desportivo, liturgia e atividades festivas. A Noroeste encontra-se um jardim público adjacentes aos edifícios plurifamiliares. A sul, uma linha de água separa o terreno de outra zona de Habitação plurifamiliar acessível por passadiço.
Torna-se assim evidente a importância do terreno como elemento que articula todas estes usos urbanos. E é precisamente esta realidade que vai orientar a estratégia urbana. Esta assenta assim numa valorização profunda do espaço livre e de toda a sua simbologia.
Deste modo, mantivemos enquanto espaço livre público o gaveto e toda a área circundante à árvore existente no local. Ao mesmo tempo, mantemos toda a topografia natural de modo a não só preservar os atravessamentos como conferir centralidade e acessibilidade à zona da Igreja, da Residência/Serviço Pastoral e do Espaço de Acolhimento.
A par com esta vontade de convite à permanência e atravessamento pedonal do lote, foram identificadas as inconsistências urbanas da envolvente, nomeadamente a existência da empena a nascente e o remate dos lotes de habitações unifamiliares a sudoeste. A implantação dos volumes edificados é assim uma consequência natural da valorização do espaço público e da colmatação da forma das zonas urbanas adjacentes.
A igreja
Surge como evidente a colocação da igreja na zona Nordeste do lote, estando a sua entrada colocada na zona mais alta, devidamente virada a nascente. Assim, está diretamente relacionada com todo o novo adro do gaveto. Esta estratégia de entrada lateral é comum na arquitetura conventual portuguesa e permite aqui garantir a dignidade e espaço necessários a um adro nobre, protegendo a entrada das inconveniências relacionadas com o tráfego automóvel.
Este novo adro assume as características típicas da arquitetura portuguesa no que toca ao respeito pela topografia original dos locais. Como veremos mais adiante a implantação da entrada na cota mais alta e a sua relação direta com o volume da torre permite sinalizar com uma forma urbana clara a importância da atividade religiosa naquilo que é a tradição das cidades portuguesas. Isto é, o volume da torre domina sobre as proximidades e assinala a importância da entrada no local sagrado. Ao mesmo tempo a entrada é sempre associada a um espaço publico nobre comummente conhecido como adro.
O Centro Paroquial
Numa cota mais baixa e na zona este do terreno colocamos o volume do Centro Paroquial ou Residência Pastoral/Serviço Pastoral e Social. Tal permite-nos não só colmatar as empenas dos lotes adjacentes como dar ainda mais importância à nova centralidade do Adro ajardinado. Este edifício terá assim a sua fachada mais importante voltada para o espaço publico. Considerando as limitações de terreno existentes, a vontade de providenciar espaços pedonais de qualidade, a numerosa existência de espaços de estacionamento circundantes, a importância de desincentivar o uso do automóvel e a necessária dignidade que o espaço do períbolo exige, não foram propositadamente considerados lugares de estacionamento automóvel.
A relação do projeto com a cidade
É importante referir que todos os espaços públicos reduzem as barreiras arquitetónicas na totalidade. Ao mesmo tempo, permitem uma fruição total dos espaços por pessoas de mobilidade condicionada.
Os espaços exteriores procuram também ser um exemplo ao nível da sustentabilidade aumentando ao máximo as zonas ajardinas ou de pisoteio permeável. A Igreja é a edificação que no conjunto mais se destaca e é composta por quatro volumes claramente percetíveis do exterior, seguindo uma estratégia que privilegia a autenticidade em lugar da dissimulação, a pureza e a simplicidade das formas em substituição da ornamentação e da desordem.
Os vários edifícios
O volume mais alto, estreito e esguio é a torre e como descrito atrás assinala a entrada naquilo que é a tradição religiosa da arquitetura portuguesa que remonta sempre simbolicamente à porta da muralha romana.
De maior dimensão, mas de cércea inferior à torre temos o volume que corresponde à assembleia e ao presbitério e segue a tradição de despojamento do gótico salão, típico da arquitetura portuguesa.
O volume da capela do santíssimo, é o volume mais reduzido do conjunto, mas vários elementos o tornam fundamental no conjunto: possui uma posição central no terreno e visível desde todo o adro; consiste num volume delimitado e resultante da cruz que atravessa a fachada do presbitério; trata-se de um volume orientado a nascente garantindo a colocação do sacrário nessa mesma extremidade.
O volume adjacente a nascente da igreja, estreito, baixo e comprido engloba todos os usos que completam o ato religioso: espaço das crianças / futura capela batismal, confessionários, quartos de banho, sacristia e gabinete do padre.
Todo o espaço exterior é de acesso público, garantindo desde este o acesso aos três edifícios e a mínima área de impermeabilização, sendo mantidas as cotas naturais do terreno na sua generalidade, no fundo um compromisso com as melhores práticas de edificação sustentável.
O programa funcional da Igreja
No que diz respeito ao programa funcional da Igreja, a estratégia assenta na vontade de responder de forma equilibrada às necessidades da Igreja. Adaptamos as soluções do projeto à identidade da comunidade e ao simbolismo inerente a cada uso.
É importante referir que a estratégia conceptual assenta numa vontade de simplificar formas, espaços volumes e materiais, numa busca pela pureza e autenticidade. A linguagem formal é assim aqui voluntariamente limitada e resultante de um desígnio de projeto. Este desejo acaba por ser também coincidente com as limitações orçamentais inerentes a uma comunidade cristã. Nesta os recursos financeiros são também escassos, mas onde fervilha uma cultura própria diversificada que anseia por referências estéticas autênticas e próprias.
Antecâmara
A antecâmara é o primeiro espaço a seguir à entrada, garantindo o conforto térmico e acústico de todos os fiéis. Este espaço tem a particularidade de permitir o acesso técnico à cobertura através de alçapão no teto com subsequente escada de homem até à cota mais alta. Permite também a instalação futura de equipamento sonoro ou sino.
Assembleia
A assembleia é o espaço de maior dimensão possível. Assim, tem um pé-direito que não só garante o conforto como reflete a solenidade que a liturgia exige. É iluminada por simples cortes nas paredes e tetos. Estas aberturas distribuem a luz numa linguagem arquitetónica claramente distinta. Ao mesmo tempo estes vãos indicam a presença de um espaço de natureza religiosa. A assembleia possui uma ligeira pendente em direção ao presbitério, facto que nos lembra o respeito pela topografia original ou até pelas primeiras ações de evangelização em campo aberto, e no fundo, garante um maior conforto visual a todos os fiéis. Acoplado a ela temos o coro. Garantindo-se a visibilidade para o altar dos coristas e organistas.
Presbitério
O presbitério é a continuação da assembleia de modo simples. A sua parede ostenta em toda a dimensão a cruz de Cristo através de uma enorme janela que deixa passar a luz. Recorre-se aqui ao material mais puro e nobre: a luz. Esta luz orientada a sul projetará a sua cruz sobre toda a assembleia durante todos os dias do ano, uma vez que está voltada a sul.
No presbitério procura-se o equilíbrio e cuidada execução de todos os atos litúrgicos. O altar é o centro, de um lado um ambão, do outro a presidência. Duas rampas permitem o acesso a esta zona mais elevada. Uma porta de um lado permite o acesso recatado à sacristia. Do outro lado e no enfiamento da assembleia temos um vão de acesso à capela do santíssimo de luz.
Na parede principal é possível também a projeção visual de conteúdos multimédia. Na fronteira entre o presbitério e a assembleia (e do lado oposto ao coro) encontramos a presença simbólica da Virgem.
Capela do Santíssimo
A capela do santíssimo procura não esquecer o legado da abside na arquitetura portuguesa, e concilia este mesmo aspeto formal com a funcionalidade atual. Este espaço permite também que o sacrário se encontre a poente e exista uma caminhada protegida para lá chegar.
A pequena capela que se encontra acessível através da zona de entrada da assembleia garante várias funções, consoante as necessidades futuras. Por um lado, permite que as crianças possa ter um espaço mais reservado sem prejudicar a concentração dos fiéis, por outro permitirá no futuro servir de capela batismal, assumindo nesse caso uma pia central e um pequeno retângulo de terra vegetal para recolha da água.
Casas de banho
As casas de banho são acessíveis por antecâmara ligada à assembleia e ao exterior. Garantindo-se assim a máxima eficiência ao nível de circulações e usos. As casas de banho estão preparadas para pessoas de mobilidade condicionada. Acessível pela mesma antecâmara está o espaço de arrumos que poderá albergar instrumentos de apoio à limpeza ou aos arranjos florais.
Confessionário
O confessionário é acessível desde a assembleia e possuem o grau de transparência equilibrado com a confissão.
Sacristia
A sacristia possui entrada autónoma desde o exterior para um corredor que divide a zona do gabinete de atendimento da zona da sacristia propriamente dita. Dois espaços de arrumo dão apoio à casa de banho e à entrada. Na sacristia propriamente dita existe espaço suficiente para lavatório, mesa e armário para paramentos. O lavatório tem uma ligação direta da água à terra que se encontra no exterior através de uma gárgula na fachada. A sacristia liga diretamente e discretamente com o presbitério através de uma porta.
A arquitetura do simbólico
No fundo, toda a arquitetura assume um papel de simplicidade. O minimalismo formal a par com a exaltação da natureza existente e da simples luz solar é a aproximação mais pura possível ao Divino e à ação religiosa.